sexta-feira, 4 de julho de 2008

Um pitada de amor


As coisas não valem pelo tempo que duram
mas pela intensidade com que são vividas. Fernando Pessoa


Lá fora a rua vazia chora
Os meus olhos vidram ao te ver são dois fãs, um par
E eu te chamo
Eu te peço vem
Diga que você me quer
Porque eu te quero também
Cassia Eller


Tente passar pelo que estou passando
Tente usar a roupa que eu estou usando
Tente esquecer em que ano estamos
Arranje algum sangue, escreva num pano
Rasgue a camisa, enxugue meu pranto
Pérola Negra
Luiz Melodia



O melhor o tempo esconde longe muito longe
Mas bem dentro aqui Quando o bonde dava volta ali
Bonde da Trilhos Urbanos vão passando os anos E eu não te perdi
Mas aquela curva aberta, aquela coisa certa Não dá entender
Caetano Veloso




CAFÉ FILOSÓFICO
O que podem os afetos?
Viviane Mosé e Nelson Lucero

Nós somos um fundo caótico de afetos e de intensidades que buscam se significar. Como coordenar esse excesso de afetos dando a eles um contorno sem impedi-los de existir? Esta é a questão que a filósofa e psicanalista Viviane Mosé e o terapeuta corporal Nelson Lucero exploraram no Café Filosófico realizado dia 20 de junho, na CPFL Cultura em Campinas – “O que podem os afetos?”.

As faces do poder“O poder hoje se manifesta através da diminuição e do controle da vida. Estamos sempre procurando modelos, buscando um lugar na sociedade. Queremos nos encaixar no jogo, ao invés de jogar nosso próprio jogo”. Com sua sensibilidade de poeta, Viviane aponta que algo está errado: a vida está diminuída, quase por um fio. Seja pela sociedade, que massifica as pessoas, ou pelo inconsciente, que costuma nos levar pelo caminho mais seguro, nós estamos sob controle. Nos encaixotamos em modelos previsíveis, seguimos padrões para não errar. Longe de anunciar uma “conspiração”, a filósofa afirma que é possível reconhecer e driblar esses mecanismos de controle. “Spinoza diz que todo corpo afeta e é afetado por outros corpos e a compreensão desses choques vai produzir os bons e maus encontros.

Quando um encontro nos aumenta, ele produz a ação, mas quando ele nos diminui, ele nos torna passivos e nos entristece”. Viviane diz ainda que, de acordo com Spinoza, a compreensão de alegria e tristeza depende de uma quantidade de intensidade de vida que você ganha. Toda alegria é alegria de viver. Quando você ganha vida você se alegra e quando perde, você se entristece. “O único afeto para Spinoza é a alegria. Tristeza é a falta de alegria, amor é uma alegria atribuída a uma causa externa e raiva é uma falta de alegria atribuída a uma causa externa. Este é um tema maravilhoso, acho que deveríamos estudá-lo na escola”.

Limites para os afetos

Nós deveríamos amar profundamente os limites, pois eles nos permitem organizar este caos que somos”. Partindo de teorias de Nietzsche e Foucault, Viviane Mosé afirma que os limites estão sendo usados equivocadamente em nosso mundo contemporâneo: eles deixaram de ser um meio para atingir a própria vida e passaram a ser finalidade. Resultado: aquilo que deveria potencializar e organizar foi transformado em um entrave que impede a vida de ser vivida plenamente. “Nós tratamos mal nossos excessos de afetos porque não conseguimos lidar com eles, até tentamos eliminá-los. Nosso objetivo principal deveria ser vivê-los”.


A pulsação da vida
“Nós somos puro deslimite” Nelson Lucero
Todos nossos afetos encontram correspondência em nosso corpo. Partindo do princípio de que a vida é pulsação, o terapeuta corporal Nelson Lucero traz um novo olhar sobre os afetos. “A experiência sempre ocorre em primeira pessoa, no singular. Eu só tenho acesso à experiência do outro pela expressão, que é campo da ação: tudo o que eu experimento, de alguma maneira, vai criar forma: minha fala, expressão social, uma reação motora... Se os afetos percorrem toda a vida, nós podemos afirmar que eles impulsionam e excitam a vida. A própria vida é excitação e tensão, estamos vivos porque há uma excitação que nos percorre”.

Lucero ressalta que a principal propriedade da vida é criar formas, e este jogo tem dois caminhos: a contração e a expansão. Portanto, quando cria formas, a vida se endurece ou se dissipa. Ele exemplifica como os afetos são as formas de manifestação da vida no corpo: “A neurose, por exemplo, é criar um movimento na contração: é me defender, gastar energia. O outro extremo disso é me perder na expansão. Um sinal psicótico que o corpo dá é a estranheza do corpo: quando a pessoa não reconhece sua própria mão ou seu próprio rosto, ela está na eminência da psicose”.

O terapeuta explica que a própria vida e a morte podem ser sentidas de outra maneira: “Neste jogo de afetar e ser afetado, nós morremos e nos produzimos continuamente: é aí que reside nossa capacidade de maior ou menor autonomia. Quando eu não afronto a vida, ou tenho medo da morte, eu crio uma imobilidade, uma dureza, que me faz perder a capacidade de afetar e ser afetado. Não sinto mais a vida que pulsa em mim”.




Fonte: Café Filosófico

Um comentário:

um oceano inteiro para nadar...dançar disse...

tenho estudado a contração e expansão na dança e acredito na relação entre afetar e ser afetato.
na minha pesquisa a proporção em que as relações acontecem também as ações se manifestam
meu blog:
stacattosp.blogspot.com
obrigado pelas palavras
fernando machado