sexta-feira, 30 de maio de 2008

A BENETTON E A PROPAGANDA NOSSA DE CADA DIA!!!!

fotografia: Oliviero Toscani

VIVA AO ANÚARIO DE CRIAÇÃO !!!

Entro no metrô, linha verde, e comecei a prestar atenção naquela televisão que colocaram agora (Tv Minuto) , que diga-se de passagem para mim, como muitas outras coisas que o metrô está envolvido em uma grande lavagem de dinheiro. Porque, ao contrário, investir dinheiro em televisões, poderiam muito bem investir no transporte público. Porque eles não investem em um grande projeto para melhorar o trânsito? Mas isso é uma questão discutível.
Prestando atenção na Tv, aparece um homem com os braços cruzados, e uma legenda embaixo: “você encara a violência assim!” e depois vem uma mulher fazendo o símbolo da SOU DA PAZ(com as mãos), e a seguinte legenda: “ou você encara a violência assim”. E para finalizar: “Seja uma filiado da SOU DA PAZ”.
Que propaganda é essa? Parece propaganda para se filiar ao um grêmio de faculdade, filie-se. E qual é a proposta? De como se encara a violência? eu encaro com muito medo. E a “Sou da Paz” encara fazendo uma propaganda com o símbolo de paz com as mãos. A questão da violência também é discutível.
A questão é a propaganda, é ruim. Fico pensando: como as propagandas são ruins. Não é só essa, muitas não passam mensagens. As vezes vejo uma propaganda e nem sei de que empresa ela é, ou porque não lembro, ou porque a propaganda brilha de uma forma a qual não associa a imagem da empresa.


Mas quem é a amante de propaganda e publicidade, sabe, existem propagandas vencedoras e dignas de até mesmo uma foto no anuário do “Clube de Criação” , que por sinal é respeitadíssimo no meio publicitário, são caros e para poucos.
Propaganda que tenho certeza que muita gente vai lembrar são as da Benetton, isso sim é propaganda. Polêmicas, mas dificilmente as pessoas esqueceram as propagandas da Benetton, e mais, associam bem a marca.
Tão polemica a marca de roupas italiana, ganhou espaço em uma exposição “Controvérsias – Uma História Ética e Jurídica da Fotografia” que aconteceu em abril deste ano na Suíça, pagaria muito para vê-las, grande parte da exposição foi das campanhas da Benetton que chocam !!!! Como há muito tempo não se vê por aqui.

Bárbara Pinheiro

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Uma Homenagem - CHICO BUARQUE


Hoje acordei com o despertador, na música, Marisa Monte, Segue o Seco; a boiada seca, na enxurrada seca, a trovoada seca, na enxada seca, segue o seco sem sacar que o caminho é seco, sem sacar que o espinho é seco, E a água que sacar será um tiro seco, e secará o seu destino secará. Ô chuva, vem me dizer, se posso ir lá em cima prá derramar você. Ô chuva, preste atenção, se o povo lá de cima vive na solidão
Linda canção, que sacada a dela. Mas pensando em canções que são grandes sacadas na verdade, lembro de Chico Buarque, onde as músicas na sua maioria tem uma interpretação atrás, Me disseram que tem um livro com as músicas e suas interpretações do explendido...... Chico Buarque. A música que não sai da minha cabeça “ Tira as Mãos de Mim” é fora do comum, por isso pesquisei sobre sobre e a história é bem complicada, achei a interpretação, e por coincidência, o nome da esposa de Calabar é Bárbara.
“No século XVII, o Brasil sofreu invasão Holandesa, O Brasil ainda era colonizado. Em meio a esta invasão, se destacou um mulato alagoano chamado Domingos Fernandes Calabar, casado com Bárbara. amavam-se e lutavam, juntos, pelos seus ideais. O Brasil vivia um grande desenvolvimento no cultivo da cana-de-açúcar, despertando os interesses de outras nações, principalmente a Holanda. Isso fez com que os holandeses invadissem o Nordeste. Em uma dessas invasões, no Arraial do Bom Jesus, começou a aparecer a figura de “Calabar”, defendendo o seu lugar e mais tarde lutando ao lado dos Holandeses, o que lhe custou um título de traidor da pátria brasileira, a história foi contada pelos portugueses, que na época tinham o poder sobre a terra brasileira.
Voltando-se para Bárbara, mulher de Calabar, teve o poder de despertar o desejo em um amigo de Calabar, Sebastião Souto, que foi quem entregou o seu “amigo” para os portugueses. Cometeu este ato, com o simples desejo de possuir Bárbara.”


CHICO BUARQUE
Ele era mil (Calabar)
Tu és nenhum (Souto)
Na guerra és vil (Souto)
Na cama és mocho (Souto)
Tira as mãos de mim (Bárbara)
Põe as mãos em mim (Bárbara)
E vê se o fogo dele (Calabar)
Guardado em mim (Bárbara)
Te incendeia um pouco (Souto)
Éramos nós (Bárbara e Calabar)
Estreitos nós (Bárbara e Calabar)
Enquanto tu (Souto)
És laço frouxo (Souto)
Tira as mãos de mim (Bárbara)
Põe as mãos em mim (Bárbara)
E vê se a febre dele (Calabar)
Guardada em mim (Bárbara)
Te contagia um pouco. (Souto)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Nietzsche


Eu aprendi em uma dessas aulas malucas da faculdade, que blog pode ser tanto ser uma busca de notícias na internet, ou seja algo que vc pesquisou, ou tanto quanto aquelas que vc escreve por opinião, conclusão, pq aconteceu ou viu, enfim, uma infinidades de outras coisas
Parece que tudo se torna notícia.
Certo dia, no meu trabalho estava pesquisando se aquele livro "Quando Nietzsche Chorou" era classificado como auto-ajuda. E vejam o texto que encontrei, onde se fala de Nietzsche, é lindo como a autora é romântica com Nietzsche.
E naquele momento eu justamente trabalhava em uma editora e convivia com títulos e classificação de livros, os mais vendidos etc, e o texto caiu como luva nas minhas maõs
Fora o que eu ouço, sem querer julgar os amantes da leitura de auto-ajuda, mas é impressionalmente como se vende livros desta classificação. Na minha opinião as pessoas compram livros que a leitura seja mais fácil de compreender, ler Nietzsche, é estranhamente difícil e requer uma bagagem cultural e analítica forte. Eu acredito que se eu viajar no Nietzsche eu ficaria uma pouco mais louca.

A Auto-desajuda de Nietzsche

Paro em frente à vitrine da livraria famosíssima em Curitiba. Livros de auto-ajuda por toda parte. Eu, em meio à uma discreta – e, às vezes, não tão discreta – depressão que dura toda a minha vida, deveria os ler, sim. Parecem, pelos títulos expostos ali, que ensinariam-me a vencer na vida, no amor, a aparentar sucesso profissional. Um deles até mesmo promete que descobriria O Poder dentro de mim e outros a encontrar quem mexeu no meus queijos e salames, provavelmente nomes novos para coisas espirituais. Encosto a testa no vidro, num desânimo, por saber o que todos eles dizem: que devo repetir para mim mesma, por dez minutos, todas as manhãs, que sou um sucesso. Que devo vestir-me como uma pessoa de sucesso, que devo dizer em voz alta nomes de virtudes humanas. (Oh, contava, dia desses, um amigo, que, todas as sextas-feiras, em sua empresa, uma terapeuta faz os funcionários jogarem bolas coloridas para cima, enquanto gritam nomes de virtudes humanas como: “Perseverança!”, “Coragem!”, “Fraternidade!”.) Ponho a mão no bolso para pegar mais um anti-ácido.Decido sentar na praça, em frente à livraria famosa em que não entrei, com minha velha edição de bolso de Ecce Homo – de como a gente se torna o que a gente é, de Friedrich Nietzsche (L&PM, 2004, 206 págs.). Ele nunca estará na lista dos mais vendidos, ele nunca estará num daqueles pedestais ornados da livraria, porque Nietzsche percorre o caminho mais difícil, porque ler Nietzsche não é para qualquer um.O mundo todo está numa corrida por virtudes humanas. Agora, ser virtuoso é bem de consumo. Antes eram os carros, a posição profissional. Depois o corpo, os músculos, o silicone, as bolsas da Daslu. Agora está na moda ser bom. Vejo as camisetas, pulseirinhas, em prol de todas as causas possíveis: guaxinins em extinção no sudoeste do Sri Lanka, criancinhas famélicas da África, o grupo de senhoras bordadeiras de São João do Triunfo... e você nem precisa conhecê-los, não, compra-se pela internet: pulseirinhas, camisetas, xícaras, imãs de geladeira da bondade humana. Acaba de passar um rapaz com meia-dúzia de pulseirinhas em prol de desabrigados, famintos e clubes de futebol falidos. Com o livro no colo, dou um meio sorriso: “a piedade é uma virtude apenas para os décadents”.(Ah, Friedrich, por você, muitas vezes, enlouqueço, percorrendo a casa de pijamas, tateando as paredes às cegas e resmungando: "Friedrich, Friedrich, por que você morreu? Quem mais dirá tão verdadeiras coisas, meu querido?").E calem-se nossos conceitos de Bem e Mal, para compreender Nietzsche, cale-se tudo o que se tenha aprendido. O rapaz das pulseirinhas não sabia, e, nem a moça que passa agora, com uma camiseta do Greenpeace e bolsa da campanha do "Sim" à proibição do comércio de armas, que pensava ele ser a piedade, seja com as baleias ou os times de futebol, muito parecida com as más maneiras, e, que aquela poderia interferir no destino da criatura de maneira trágica. Tiramos dela o sofrimento, tiramos dela o privilégio de crescer, e ela não se torna o que poderia ser.Manipular pessoas com sorrisos e bajulações, galgar postos às custas do Poder dentro de Nós, e outras fórmulas que os livros de auto-ajuda ensinam, Nietzsche, há mais de cem anos, já havia desmascarado: “A condição de existência dos bons é a mentira”. Por não quererem ver, a todo custo, como a realidade é constituída no fundo. A realidade, e seus horrores são mais necessários que a bondade, por ser esta de caráter mentiroso. Desvio os olhos do livro, já sorrindo completamente. Ler Nietzsche não é para qualquer um.Uma senhora sai da livraria, felicíssima, com seu livro de auto-ajuda. Que lhe dirá mentiras horrendas sobre a alegria do otimismo. Fará a velhinha feliz, por, talvez, meia-hora. Diria Nietzsche: “o otimista é tão décadent quanto o pessimista, e talvez mais daninho do que ele".


Fico a observar a vitrine. Aquelas pilhas e pilhas de papel, todos aqueles livros, listas de mais-vendidos, em vão. Noites de autógrafos, fãs desesperadas em busca de autógrafos dos autores, que viraram celebridades. Friedrich Nietzche havia dito que, numa frase, poderia escrever muito mais do que muitos em livros inteiros, e escreveu-as. E valem, valem mais do que todos aqueles livros. Ah, para todos os problemas da humanidade, a solução era tão simples: “No fato de um homem bem-educado fazer bem aos nossos sentidos: no fato de ele ser talhado em uma madeira que é dura, suave e cheirosa ao mesmo tempo. A ele só faz gosto o que lhe é salutar; seu prazer acaba onde as fronteiras do salutar passam a estar em perigo. O que não acaba com ele, fortalece-o. Acumula por instinto tudo aquilo o que vê, ouve e experimenta: é um princípio selecionador, ele reprova muito. Ele está sempre em sua própria companhia, honra pelo ato de selecionar, pelo ato de permitir, pelo ato de confiar. A todo tipo de estímulo ele reage lentamente, com aquela lentidão que uma longa cautela e um orgulho desejado inculcaram nele. Não acredita nem no infortúnio, nem na culpa: ele dá conta de si mesmo, ele sabe esquecer. Ele é forte o suficiente a ponto de fazer com que tudo tenha de vir para o seu bem... Vá lá, eu sou o antípoda de um décadent: pois acabei de descrever a mim mesmo.”Deixo a praça. Não comprei nenhum livro, nenhuma pulseirinha, nenhuma camiseta. Eu precisaria mesmo era comprar um novo exemplar de Ecce Homo, que o meu, por tanto manuseio e anotações nas margens, está se desmanchando. Mas, meu livro de auto-desajuda, naquela livraria, certamente, não iria ter.Para ir além

Autora: Andréa Trompczynski
Fonte: Digestivo Cultural

quinta-feira, 15 de maio de 2008

REVISTA OCAS - Saindo das ruas


Uma bela noite de sábado, sentada em um bar com um pessoal, na famosa rua Augusta, aparece um vendedor da Revista "Ocas". Já vi um edição da "Ocas" e na faculdade fizeram um documetário bem interessante da Revista, da qual não é vendida nas bancas e sim por moradores de rua, que a cada venda, 3R$, ganha 2R$.
Interessante o trabalho da "Ocas" e começamos a fazer diversas perguntas. Ele, o morador de rua começou a contar as suas histórias e disse até que jogou bola com o Chico Buarque, e que viajou, não me lembro o lugar, mas disse de um campeonato mundial dos moradores de rua, fiquei impressionada. Ele disse que foi morar na rua porque perdeu tudo, e passou por bons bucados, a filha e a esposa morreram num acidente em uma viagem, disse que ficou louco, desesperado, sem saber o que pensar ou fazer, foi para rua, onde encontrou com diversas situações, coisas que ele não poderia entrar em detalhes, mas que depois que a "Ocas" ofereceu uma oportunidade de construir novamente sua vida e retornar a alto estima, ele estava bem melhor, falou que a "Ocas" não é uma instituição de caridade, se trabalha você ganha, se não trabalha não ganha, e é apenas destinada a venda para moradores ou ex-moradores de rua.

Muito interessante a história deste vendedor, por isso, eu vou postar hoje, algo que me deixou mais uma vez impressionada. Li a matéria no site do Comunique-se, e estou colocando a disposição.




Sem lenço, sem documento e a rua como moradia



Um grupo de amigos viveu na última semana, em São Paulo, uma experiência dolorosa, dessas que provocam uma imensa catarse, seguida de uma ferida de difícil cicatrização. Além de um profundo processo de reflexão sobre o próprio futuro.
Fomos encontrar, como morador de rua, um profissional de estirpe, de carreira brilhante, que nos mais de 30 anos de atividade, foi repórter, editor e chefe de publicações como Gazeta Mercantil, DCI, IstoÉ, O Globo, Folha de S.Paulo e TV Record. Mais interessante: foi um dos primeiros jornalistas brasileiros especializados na nobre editoria de finanças.
Sem dinheiro, sem trabalho, sem roupa, sem moradia, relegado pelo pequeno núcleo familiar, com a auto-estima abalada e, o que é pior, sem esperança e sem opções, encontrou abrigo nas ruas da cidade e também nos albergues da Prefeitura de São Paulo, com direito a pouso (era obrigado a acordar e sair às 5h da manhã), banho (muito rápido, porque havia fila de espera), um prato de comida (aí a concorrência às vezes ajudava, porque permitia escolher entre a comida pública e aquela oferecida por ONGs e outras entidades assistenciais) e alguma assistência médica.
Como companhia, vagabundos diversos, criminosos de todos os tipos (inclusive os de alta periculosidade), deficientes físicos e mentais e (acreditem se quiser) alguns outros profissionais diplomados, como médicos, advogados e pelo menos mais dois jornalistas.
No sábado, num encontro que com ele estivemos, eu, Nelson Blecher, diretor de Redação de Época Negócios, e Fernando Porto, repórter do Diário do Comércio, que já há algumas semanas é a ponte entre ele e o mundo civilizado, numa tentativa de evitar o pior. Foi na Praça da Sé, no Centro Cultural da Caixa Econômica. Ali nosso colega recobrou parte das esperanças, não sem antes se emocionar, chorar, tossir (seqüela de uma pneumonia que insiste em não abandoná-lo, apesar de medicado, como ele disse estar) e contar algumas histórias de sua perambulação pelo mundo da miséria, dos desvalidos, daqueles que encontraram a rua como moradia e os anônimos como família.
Rubens, sim o primeiro nome me arrisco a revelar, mas vou manter nosso personagem no anonimato para preservá-lo, sobretudo porque estamos apostando na sua reintrodução no mundo do trabalho e de uma vida digna, contou que a vida (por culpa dele próprio) foi lhe fechando os caminhos, até empurrá-lo para esse beco praticamente sem saída.
Ele também um boca de rango, como são chamados os moradores de rua que disputam as refeições gratuitas oferecidas na cidade, contou ter dia em que a espera por um prato de comida, chegava a três horas.
“A indústria da miséria é muito poderosa” contou ele para nós, dizendo ser a igreja uma das grandes beneficiárias de recursos da Prefeitura. E como bom jornalista investigativo, apontou dúvidas e questionamentos em relação ao uso desses recursos, por conseguir enxergar nas ruas coisas que os homens da civilização não conseguem ver.
“Sofremos muita humilhação. Muita mesmo. Outro dia fui pedir um copo de água de torneira num bar e o balconista me falou, na lata: ‘água de torneira não se pode pedir aqui sentado no balcão, não; espera lá na porta da rua’. Você não sabe o que fazer; a vontade é de desaparecer”.
Dinheiro fácil? Também tem. Não é muito, mas tem. O “programa câmbio” dá a quem tem o CPF limpo, sem pendengas financeiras, R$ 15. Isso mesmo, R$ 15 limpinhos. É só ir lá, nas escadarias da Praça Ramos de Azevedo, ao lado do Teatro Municipal, a qualquer hora do dia (incrível isso) e assinar uns papéis. Sabem o que são esses papéis? Aquisição fictícia de dólar para lavar dinheiro sujo - coisa de U$ 5 mil por CPF. Uma desfaçatez, um crime que a polícia finge não ver e que faz a alegria de traficantes e outros criminosos, que se valem da miséria para mostrar que nesse país muitas vezes o crime compensa.
São histórias que Rubens está vivendo na pele, não por opção, mas por falta de, já há dois meses. Ele já vinha cambaleante havia um ano, desde que teve de deixar a casa em que morava de favor, da única irmã que tem, numa cidade do interior, próxima de São Paulo. Desde então não mais se acertou. Agüentou o quanto pôde, com um ou outro frila, morando em pensões, até que tudo nem isso deu mais.
Família? Desde que se separou de sua mulher, também jornalista, quase 30 anos atrás, perdeu contato completamente, inclusive com o filho, então recém-nascido, que nunca mais encontrou na vida. A única coisa que sabe é que o menino tem hoje 28 anos, é advogado e mora em São Paulo.
Com algum dinheiro nas mãos, para uma ação de emergência, e uma enorme esperança no coração, ele se despediu de nós voltando a acreditar que voltaria a ter melhores dias pela frente. Nós também saímos confiantes num desfecho positivo, até porque a solidariedade de vários outros colegas foi fantástica.
Ainda é cedo para saber se tudo sairá como o esperado, mas ele já deixou o albergue, passou alguns dias num hotel simples (um cinco estrelas se comparado ao albergue da prefeitura), com direito a tevê e bife a milaneza, e hoje está morando numa pensão bancada pelo Sindicato dos Jornalistas, que, acionado, não se furtou a acolhê-lo e a dar apoio, assim como também fizeram vários dos amigos que ele fez ao longo dos anos em que freqüentou as respeitadas redações.
O primeiro passo foi dado e agora já há garantia de alguns trabalhos para ele, de modo a que possa entrar novamente em ritmo de jogo e quem sabe voltar a brilhar. Tem apenas 57 anos e pode, portanto, ter ainda muitos anos produtivos pela frente.
Esse grupo de amigos, que tem também como um dos pilares Lino Rodrigues, além de se empenhar na questão material, financeira e de trabalho, tenta agora o que seria o passo decisivo e mais importante: reaproximá-lo da família. Se os céus e os anjos estiverem ao lado de todos nós, haverá de dar certo.
Nós é que nunca mais seremos os mesmos depois dessa experiência que mexeu com os mais nobres de nossos sentimentos.
Fica a lição de que o jornalismo, como várias das profissões estressantes, pode levar alguns de seus representantes para a beira do abismo. Temos de pensar seriamente nisso para quem sabe construir uma rede de proteção como acontece em algumas outras atividades, caso dos artistas, por exemplo, que tem conseguido dar abrigo e dignidade àqueles, que já sem forças e condições, querem apenas ter uma velhice digna.
Um tapa na cara de quem se julga acima do bem e do mal, dono da verdade e paladino da justiça, da moralidade e dessas que certamente não desejamos para nosso pior inimigo, mas que traz ensinamentos importantes para quem, como nós, abraçou esta difícil e fascinante atividade como ofício.
A partir de e-mails trocados entre dois colegas, pudemos constatar que um deles tinha chegado ao fundo do poço, perdendo inclusive o mais valioso dos bens, a vontade de viver.
Foi um choque. Como seria possível um profissional renomado, que fez uma brilhante carreira nos anos 70, 80 e 90, com passagens por nada menos que O Globo, Folha de S.Paulo, IstoÉ, Gazeta Mercantil, DCI e TV Record, sempre em cargos de alguma relevância, chegar àquela situação, sem família, sem emprego, sem dinheiro, sem casa, sem roupa, sem auto-estima e, pior de tudo, sem esperança?
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia "Fontes de Informação" e o livro "Jornalistas Brasileiros - Quem é quem no Jornalismo de Economia". Integra o Conselho Fiscal da Abracom - Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.


Fonte: Jornalista e Cia